GUERRA, TECNOLOGIA E TERRORISMO. ENTRE AS RAZÕES DE ESTADO E O PENSAMENTO CRÍTICO
Dr. por la USP
Luis Fernando Ayerbe
Luis Fernando Ayerbe
El Doctor Luis Fernando Ayerbe es un Acadèmico y estudioso de las presentes cuestiones y en especial las Relaciones Internacionales sobre los Estados Unidos.
Doctorado por la Universidad de San Pablo
e Investigador y miembro del REDIAL y otros centros internacionales.
Doctorado por la Universidad de San Pablo
e Investigador y miembro del REDIAL y otros centros internacionales.
Apresentação
O artigo aborda a chamada “guerra ao terrorismo” privilegiando três dimensões. Em primeiro lugar, a caracterização de eventos cuja imprevisibilidade e impacto, especialmente quando marcados pela violência, instituem na análise da realidade contemporânea o peso da incerteza e do acontecimento. A partir dessa contextualização, direcionamos o foco para a centralidade adquirida pelo terrorismo na agenda de segurança estadunidense, os desafios colocados em termos da capacidade preventiva, e as respostas privilegiadas, em que se estabelecem mecanismos de cooperação entre o complexo de inteligência do Estado e centros de pesquisa. Criam-se programas com ambiciosos objetivos, em que destacamos o desenvolvimento de uma “ciência da radicalização”, pautada por abordagem interdisciplinar dirigida a desvendar parâmetros sociológicos e psicológicos capazes de diagnosticar, antecipar e tratar comportamentos suspeitos de terrorismo.
Como contraponto à perspectiva focada nas razões do Estado, a terceira dimensão privilegiada introduz abordagens do campo intelectual comprometido com o desvendamento de fenômeno associado às mutações, opressões e incertezas que caracterizam o capitalismo contemporâneo, em que sobressaem a compreensão de motivações que estimulam a opção pelo terrorismo, seu poder de atração e recrutamento, especialmente entre camadas jovens da população. Damos destaque ao desejo reprimido de Ocidente de Alain Badiou, a luta pelo reconhecimento de Axel Honneth, e o Desaparecer de Si de David Le Breton.
O artigo aborda a chamada “guerra ao terrorismo” privilegiando três dimensões. Em primeiro lugar, a caracterização de eventos cuja imprevisibilidade e impacto, especialmente quando marcados pela violência, instituem na análise da realidade contemporânea o peso da incerteza e do acontecimento. A partir dessa contextualização, direcionamos o foco para a centralidade adquirida pelo terrorismo na agenda de segurança estadunidense, os desafios colocados em termos da capacidade preventiva, e as respostas privilegiadas, em que se estabelecem mecanismos de cooperação entre o complexo de inteligência do Estado e centros de pesquisa. Criam-se programas com ambiciosos objetivos, em que destacamos o desenvolvimento de uma “ciência da radicalização”, pautada por abordagem interdisciplinar dirigida a desvendar parâmetros sociológicos e psicológicos capazes de diagnosticar, antecipar e tratar comportamentos suspeitos de terrorismo.
Como contraponto à perspectiva focada nas razões do Estado, a terceira dimensão privilegiada introduz abordagens do campo intelectual comprometido com o desvendamento de fenômeno associado às mutações, opressões e incertezas que caracterizam o capitalismo contemporâneo, em que sobressaem a compreensão de motivações que estimulam a opção pelo terrorismo, seu poder de atração e recrutamento, especialmente entre camadas jovens da população. Damos destaque ao desejo reprimido de Ocidente de Alain Badiou, a luta pelo reconhecimento de Axel Honneth, e o Desaparecer de Si de David Le Breton.
Acontecimentos “Cisne Negro”
Em 18 de dezembro de 2010, Mohamed Bouazizi, jovem tunesino desempregado, que ajudava no sustento da família vendendo frutas e verduras na rua, ateou fogo em si mesmo, morrendo em consequência dos ferimentos em 5 de janeiro de 2011. Segundo relatos de testemunhas, além de humilhado publicamente por fiscais do governo, sua balança foi confiscada e a mercadoria jogada fora, sob o argumento de que não tinha autorização. Após recorrer à administração local para que revisse sua situação e ao receber resposta negativa, cometeu a autoimolação. A condição social pré-existente o predispunha ao descontentamento, mas o aviltamento a que foi submetido ultrapassou um limiar na sua subjetividade, gerando o sentimento do insuportável que culmina na decisão de tirar a própria vida.
Embora uma ação individual, não articulada com qualquer estratégia política, as consequências do ato de Mohamed Bouazizi adquirem predominância nas análises de conjuntura sobre eventos desencadeadores do processo conhecido como Primavera Árabe. A súbita escalada de protestos populares derruba em poucas semanas o regime de Ben Ali, no poder na Tunísia desde 1987, que foge para a Arábia Saudita em 14 de janeiro, e se espalham para o Egito, levando em 11 de fevereiro à renúncia do presidente Hosni Mubarak, no poder desde 1981. A onda de mobilizações passa a ameaçar um establishment regional que parecia consolidado, especialmente na Líbia e na Síria, em que a radicalidade dos enfrentamentos adquire o status de guerra civil. No primeiro caso, Muammar al-Gaddafi é derrubado e morto em 20 de outubro de 2011, no segundo, Bashar-al-Assad consegue manter o poder central mesmo perdendo o controle em parte importante do território, com o consequente prolongamento da crise. Além da ampliação da catástrofe humanitária, a evolução na Síria traz a um primeiro plano a divisão oposicionista, em que a frágil convergência inicial contra o governo nacional dá lugar a enfrentamentos étnicos e religiosos que impactam diretamente na internacionalização do conflito.
O acirramento de sectarismos no mundo muçulmano entre xiismo e sunismo, que adquire mudança qualitativa a partir da emergência do Estado Islâmico (EI), desafia narrativas liberais que viam na Primavera Árabe processo comparável às transições políticas na América Latina e no Leste Europeu dos anos 1980-90, conclamando os Estados do chamado “ocidente” a intervenções que acelerem mudanças de regime. O que se verifica como tendência é que a fragilização ou queda de governos tem favorecido a expansão do jihadismo.
As crises no início de 2011 na Tunísia e no Egito surpreenderam o governo dos Estados Unidos (EUA). Questionada pelo Comitê de Inteligência do Senado sobre o nível de informação que a Casa Branca detinha sobre a situação no Egito, a então vice-diretora da CIA, Stephanie O´Sullivan, colocou em evidência as dificuldades, mesmo em organismos dotados de significativos recursos humanos e materiais, para analisar uma conjuntura em que o equilíbrio se quebra pela precipitação de eventos que alteram radicalmente o cenário: “Nós temos advertido sobre a instabilidade (...) Nós não sabíamos qual seria o mecanismo de disparo para isso” (Ryan, 2011).
Na Tunísia, o disparador foi a autoimolação de Mohamed Bouazizi. Dificilmente sistemas de diagnóstico de risco político adivinhariam o impacto de decisões individuais dessa natureza, já que sua finalidade responde a outro pressuposto: o alerta antecipado a partir da geração de conhecimento sobre a realidade, combinando análise e trabalho de campo que permitam captar níveis de descontentamento com potencial de explodir em violência a partir de fatos como o protagonizado pelo jovem tunesiano.
Mark Abdollahian, executivo do Sentia Group, empresa privada que dá consultoria ao governo dos EUA sobre previsão comportamental de indivíduos e grupos, concorda com as deficiências na detecção antecipada das crises que levaram à Primavera Árabe, reconhecendo que
Em 18 de dezembro de 2010, Mohamed Bouazizi, jovem tunesino desempregado, que ajudava no sustento da família vendendo frutas e verduras na rua, ateou fogo em si mesmo, morrendo em consequência dos ferimentos em 5 de janeiro de 2011. Segundo relatos de testemunhas, além de humilhado publicamente por fiscais do governo, sua balança foi confiscada e a mercadoria jogada fora, sob o argumento de que não tinha autorização. Após recorrer à administração local para que revisse sua situação e ao receber resposta negativa, cometeu a autoimolação. A condição social pré-existente o predispunha ao descontentamento, mas o aviltamento a que foi submetido ultrapassou um limiar na sua subjetividade, gerando o sentimento do insuportável que culmina na decisão de tirar a própria vida.
Embora uma ação individual, não articulada com qualquer estratégia política, as consequências do ato de Mohamed Bouazizi adquirem predominância nas análises de conjuntura sobre eventos desencadeadores do processo conhecido como Primavera Árabe. A súbita escalada de protestos populares derruba em poucas semanas o regime de Ben Ali, no poder na Tunísia desde 1987, que foge para a Arábia Saudita em 14 de janeiro, e se espalham para o Egito, levando em 11 de fevereiro à renúncia do presidente Hosni Mubarak, no poder desde 1981. A onda de mobilizações passa a ameaçar um establishment regional que parecia consolidado, especialmente na Líbia e na Síria, em que a radicalidade dos enfrentamentos adquire o status de guerra civil. No primeiro caso, Muammar al-Gaddafi é derrubado e morto em 20 de outubro de 2011, no segundo, Bashar-al-Assad consegue manter o poder central mesmo perdendo o controle em parte importante do território, com o consequente prolongamento da crise. Além da ampliação da catástrofe humanitária, a evolução na Síria traz a um primeiro plano a divisão oposicionista, em que a frágil convergência inicial contra o governo nacional dá lugar a enfrentamentos étnicos e religiosos que impactam diretamente na internacionalização do conflito.
O acirramento de sectarismos no mundo muçulmano entre xiismo e sunismo, que adquire mudança qualitativa a partir da emergência do Estado Islâmico (EI), desafia narrativas liberais que viam na Primavera Árabe processo comparável às transições políticas na América Latina e no Leste Europeu dos anos 1980-90, conclamando os Estados do chamado “ocidente” a intervenções que acelerem mudanças de regime. O que se verifica como tendência é que a fragilização ou queda de governos tem favorecido a expansão do jihadismo.
As crises no início de 2011 na Tunísia e no Egito surpreenderam o governo dos Estados Unidos (EUA). Questionada pelo Comitê de Inteligência do Senado sobre o nível de informação que a Casa Branca detinha sobre a situação no Egito, a então vice-diretora da CIA, Stephanie O´Sullivan, colocou em evidência as dificuldades, mesmo em organismos dotados de significativos recursos humanos e materiais, para analisar uma conjuntura em que o equilíbrio se quebra pela precipitação de eventos que alteram radicalmente o cenário: “Nós temos advertido sobre a instabilidade (...) Nós não sabíamos qual seria o mecanismo de disparo para isso” (Ryan, 2011).
Na Tunísia, o disparador foi a autoimolação de Mohamed Bouazizi. Dificilmente sistemas de diagnóstico de risco político adivinhariam o impacto de decisões individuais dessa natureza, já que sua finalidade responde a outro pressuposto: o alerta antecipado a partir da geração de conhecimento sobre a realidade, combinando análise e trabalho de campo que permitam captar níveis de descontentamento com potencial de explodir em violência a partir de fatos como o protagonizado pelo jovem tunesiano.
Mark Abdollahian, executivo do Sentia Group, empresa privada que dá consultoria ao governo dos EUA sobre previsão comportamental de indivíduos e grupos, concorda com as deficiências na detecção antecipada das crises que levaram à Primavera Árabe, reconhecendo que
Todos os nossos modelos são ruins, alguns são menos ruins do que os outros ... Nós fazemos melhor que os cálculos humanos, mas não muito (...) Mas pense nisto como Las Vegas. No blackjack, se você pode fazer quatro por cento melhor do que a média, você está ganhando dinheiro real (Shachtman, 2011).
A analogia de Abdollahian com o blackjack é questionada por Nassim Taleb, que descrê da possibilidade de calcular, mesmo com 4% de margem, a “aleatoriedade da política e da economia” (2013, p.175). A implosão dos regimes de Ben Ali e Hosni Mubarak entraria na categoria de Cisnes Negros, denominação que Taleb introduz tomando como referência o momento, no final do século XVII, em que uma ave dessas características foi avistada no território que depois se denominou Austrália, sendo que até então se acreditava que os cisnes eram apenas brancos. Além da surpresa e do impacto, explicita-se nesse evento
uma limitação severa no aprendizado por meio de observações ou experiências e a fragilidade de nosso conhecimento. Uma única observação pode invalidar uma afirmação originada pela existência de milhões de cisnes brancos. Tudo o que se precisa é de um único pássaro negro (Taleb, 2012, p.15).
De acordo com Taleb, três características definem um Cisne Negro: 1) a improbabilidade, dado que a experiência passada conduz a avaliações baseadas no conhecido, mas não prepara para o que é ignorado, fora do cálculo de possibilidades; 2) o alto impacto; 3) a tendência a elaborar explicações que assumem sua previsibilidade apenas após a ocorrência.
Em retrospectiva, o governo Obama passou a atribuir a ausência de alerta na Tunísia e no Egito a falhas dos serviços de inteligência, surpreendidos por eventos que colocaram em evidência a fragilidade do status quo nesses países. Para Taleb, essa perspectiva confunde “os catalisadores com as causas e supõe que podemos saber que catalizador produzirá qual efeito” (2013, p.174), levando a respostas que considera fadadas ao fracasso, como destinar crescentes fundos para sistemas de previsão de crises. O mesmo se aplicaria à crença de que teria sido possível antecipar os atentados de 11/09/2001 em Washington e New York, que deflagraram a chamada “Guerra global contra o terrorismo” de George W. Bush, caso os serviços de inteligência tivessem atuado articuladamente no compartilhamento de informações, especialmente no monitoramento do FBI de estrangeiros oriundos do Oriente Médio que tomavam cursos de pilotagem e que depois seriam protagonistas do desvio dos aviões de passageiros rumo ao Pentágono e as Torres Gêmeas.
Diante da impossibilidade de antecipar Cisnes Negros, Taleb recomenda limitar a exposição aos seus impactos identificando e reduzindo fragilidades, algo que o governo estadunidense pareceria não ter levado em consideração nas crises regionais pós-Primavera Árabe. Em entrevista à The New Yorker em janeiro de 2014, questionado sobre a presença de diversas facções radicais no Iraque e na Síria, Obama subestimou sua gravidade, fazendo a analogia com um time júnior de basquete, distinguindo “a capacidade e alcance de um bin Laden e uma rede que está ativamente planejando grandes ataques terroristas contra a pátria, versus jihadistas que estão envolvidos em várias lutas e disputas locais de poder, muitas vezes sectárias” (Remnick, 2014). O time júnior gerou um califado e, sete meses após a entrevista, Obama anuncia que os EUA estão em guerra contra o EI, promovendo uma coalizão de mais de 60 países, incluindo Arábia Saudita, Jordânia, Emirados Árabes e Egito.
Os atentados de 11/09/2001, a abrupta queda dos regimes da Tunísia e do Egito, assim como a emergência do EI e a fundação do Califado, podem ser situados na categoria do que filósofos, historiadores e cientistas sociais denominam acontecimento: “aparição inesperada de algo novo que debilita qualquer desenho estável” (Zizek, 2014, p.18), em que a atribuição de significado por parte de determinados atores estabelece um marco de periodização, um antes e um depois em que “não só as coisas mudam: o que muda é o próprio parâmetro pelo qual medimos os fatos de mudança” (Zizek, 2014, p.155).
Em termos de impacto, François Dosse considera
Em retrospectiva, o governo Obama passou a atribuir a ausência de alerta na Tunísia e no Egito a falhas dos serviços de inteligência, surpreendidos por eventos que colocaram em evidência a fragilidade do status quo nesses países. Para Taleb, essa perspectiva confunde “os catalisadores com as causas e supõe que podemos saber que catalizador produzirá qual efeito” (2013, p.174), levando a respostas que considera fadadas ao fracasso, como destinar crescentes fundos para sistemas de previsão de crises. O mesmo se aplicaria à crença de que teria sido possível antecipar os atentados de 11/09/2001 em Washington e New York, que deflagraram a chamada “Guerra global contra o terrorismo” de George W. Bush, caso os serviços de inteligência tivessem atuado articuladamente no compartilhamento de informações, especialmente no monitoramento do FBI de estrangeiros oriundos do Oriente Médio que tomavam cursos de pilotagem e que depois seriam protagonistas do desvio dos aviões de passageiros rumo ao Pentágono e as Torres Gêmeas.
Diante da impossibilidade de antecipar Cisnes Negros, Taleb recomenda limitar a exposição aos seus impactos identificando e reduzindo fragilidades, algo que o governo estadunidense pareceria não ter levado em consideração nas crises regionais pós-Primavera Árabe. Em entrevista à The New Yorker em janeiro de 2014, questionado sobre a presença de diversas facções radicais no Iraque e na Síria, Obama subestimou sua gravidade, fazendo a analogia com um time júnior de basquete, distinguindo “a capacidade e alcance de um bin Laden e uma rede que está ativamente planejando grandes ataques terroristas contra a pátria, versus jihadistas que estão envolvidos em várias lutas e disputas locais de poder, muitas vezes sectárias” (Remnick, 2014). O time júnior gerou um califado e, sete meses após a entrevista, Obama anuncia que os EUA estão em guerra contra o EI, promovendo uma coalizão de mais de 60 países, incluindo Arábia Saudita, Jordânia, Emirados Árabes e Egito.
Os atentados de 11/09/2001, a abrupta queda dos regimes da Tunísia e do Egito, assim como a emergência do EI e a fundação do Califado, podem ser situados na categoria do que filósofos, historiadores e cientistas sociais denominam acontecimento: “aparição inesperada de algo novo que debilita qualquer desenho estável” (Zizek, 2014, p.18), em que a atribuição de significado por parte de determinados atores estabelece um marco de periodização, um antes e um depois em que “não só as coisas mudam: o que muda é o próprio parâmetro pelo qual medimos os fatos de mudança” (Zizek, 2014, p.155).
Em termos de impacto, François Dosse considera
impossível separar artificialmente o que é um acontecimento de seus suportes de produção e difusão (...) ligado ao fato que a informação contemporânea aproxima consideravelmente o acontecimento das massas que tomam conhecimento do mesmo e têm a impressão de participarem dele (2010, p.260).
Tomando como exemplo o 11/09/2001, visualiza uma temporalidade indeterminada, “o acontecimento nunca está realmente classificado nos arquivos do passado; ele pode voltar como espectro para assombrar a cena do presente e hipotecar o futuro” (Dosse, 2010, p.266).
Para Claude Romano, o significado do acontecimento é inacessível “na claridade de um horizonte de sentido prévio, senão naquilo que traz em si e aporta consigo possíveis interpretativos a partir dos quais somente poderá ser compreendido – de maneira necessariamente retrospectiva –” (2008).
Nos três autores citados, percebe-se um paralelo com a noção de Cisne Negro, cuja centralidade situa-se no improvável, mesmo em terreno pleno de decisão humana como a política, em que atores movidos por interesses constroem estratégias de impacto real por meio de multiplicidade de ações táticas.
Para Claude Romano, o significado do acontecimento é inacessível “na claridade de um horizonte de sentido prévio, senão naquilo que traz em si e aporta consigo possíveis interpretativos a partir dos quais somente poderá ser compreendido – de maneira necessariamente retrospectiva –” (2008).
Nos três autores citados, percebe-se um paralelo com a noção de Cisne Negro, cuja centralidade situa-se no improvável, mesmo em terreno pleno de decisão humana como a política, em que atores movidos por interesses constroem estratégias de impacto real por meio de multiplicidade de ações táticas.
Terrorismo e inteligência como desafios de segurança nacional estadunidense
Na direção contrária da perspectiva do improvável de Taleb, seja na deflagração de “Guerra Global contra o Terrorismo” ou contra o Estado Islâmico, os Estados Unidos têm investido de forma crescente e sistemática em programas de prevenção, em que a área de inteligência adquire destaque.
Para situar a dimensão das prioridades atribuídas pelo Estado, partimos das informações apresentadas por Tetlock e Gardner (2016), que tomando como base a Comunidade de Inteligência dos Estados Unidos formada pela CIA, a Agência de Segurança Nacional, a Agência de Inteligência da Defesa e outras 13 agências, calculam um orçamento anual de 50 bilhões de dólares, empregando 100.000 pessoas, 20.000 das quais são analistas.
Em termos de demarcação de significados, reproduzimos a concepção oficial sobre inteligência e terrorismo, base interpretativa comum das agências estatais e dos programas de cooperação com centros de pesquisa.
De acordo com a CIA, sua missão é “Prever ameaças e outros objetivos de segurança nacional dos EUA através da coleta de informações importantes, produzindo análises objetivas de todas as fontes, conduzindo ações secretas efetivas, conforme indicado pelo Presidente, e salvaguardando os segredos que ajudam a manter nossa Nação segura” (CIA, 2017). Trata-se, explicitamente, de três dimensões articuladas: inteligência como coleta e produção de informação, a serviço do processo de tomada de decisões do Estado para agir, de forma aberta ou encoberta, em defesa da segurança nacional.
De acordo com o Departamento de Estado, considera-se terrorismo a “violência premeditada, politicamente motivada, perpetrada contra alvos não combatentes por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, normalmente destinados a influenciar uma audiência”. O termo “terrorismo internacional” significa o terrorismo que envolve cidadãos ou o território de mais de um país. O termo “grupo terrorista” significa qualquer grupo que pratica, ou que tem subgrupos significativos que praticam o terrorismo internacional. O termo não combatente “é interpretado como significando, além de civis, pessoal militar (armado ou em serviço) que não estão estabelecidos em zona de guerra ou em uma configuração semelhante a uma guerra” (USSD, 2017, p. 446).
Além de caracterizar as ações e seus agentes, o Departamento de Estado define também Países Patrocinadores do Terrorismo, a partir da atribuição de responsabilidades em atos que expressariam essa postura, tornando-os sujeitos a vários tipos de sanções: restrições à ajuda internacional de Estados Unidos; proibição de exportações e vendas para o setor da defesa; controles sobre exportações de artigos que possam ter dupla utilização, servindo a outras finalidades de caráter suspeito; diversas limitações financeiras e penalidades para pessoas e países que se envolvam em transações comerciais com aqueles considerados patrocinadores do terrorismo.
Para dar resposta aos desafios e responsabilidades colocados pela guerra ao terror, a caracterização das ameaças adquire uma amplitude proporcional à margem de ação considerada adequada para o exercício do poder estadunidense. Dessa forma, a definição de terrorismo e dos seus agentes torna-se suficientemente ampla como para justificar a inclusão ou exclusão de países, organizações ou movimentos de acordo com as prioridades da segurança nacional estabelecidas por diferentes governos. Paralelamente, fortalecem-se capacidades de inteligência do Estado nas dimensões da análise de fontes e ações secretas.
Ainda que dispondo de capacidade de investimento em recursos humanos e materiais em graus inalcançáveis pelas demais potências, o uso da inteligência e da força militar estadunidense enfrenta cenários plenos de obstáculos. Às incertezas oriundas de cisnes negros, somam-se as da base material do capitalismo na esteira da IV Revolução Industrial.
Para Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, que reúne anualmente elites orgânicas do capital global em Davos, Suíça, a IV revolução industrial estaria afetando diretamente os conflitos modernos. Em contraste com as revoluções anteriores, que promoveram a “transição da força muscular para a energia mecânica, (na atual) a produção humana é aumentada por meio da potência aprimorada da cognição” (Schwab, 2016, p.15), a partir da fusão de tecnologias digitais, fundamentalmente computação, internet e inteligência artificial, se estabelece uma “interação entre domínios físicos, digitais e biológicos” (op. cit, p. 16).
Como consequência, novas tecnologias permitem reduzir e tornar mais leve armas com alto poder de destruição, incluindo biológicas, ampliando sua disponibilidade para indivíduos ou pequenos grupos. Ao mesmo tempo, estaria havendo uma hibridização do conflito, afetando diferenciações entre guerra e paz, combatente e não combatente, violência real e cibernética.
Se bem na Guerra Fria a capacidade de dano potencial por confronto entre Estados Unidos e União Soviética compreendia a própria existência da humanidade, tratava-se de atores sem vocações suicidas, cuja racionalidade estratégica era conhecida e relativamente previsível, permitindo estabelecer parâmetros comuns de equilíbrio de poder que evitassem uma conflagração total. Nas guerras do século XXI, além do acesso a armas de alta letalidade, a atomização das organizações e sua atuação em rede, as torna alvos menores e de maior mobilidade, colocando como elemento destacado do combate ao terrorismo a surpresa estratégica, impactando diretamente no terreno da inteligência e a tomada de decisões dos Estados.
Timothy Walton sintetiza os desafios em quatro aspectos: “a incerteza da situação atual, o fato desagradável de que de vez em quando há surpresas, a forte possibilidade de que alguém está tentando enganar, e o futuro imponderável” (Walton, 2010).
Como resposta, a segurança estadunidense atua em duas linhas paralelas. A primeira enfatiza o desenvolvimento de tecnologias para uso militar, em que cabe destacar a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada da Defesa (DARPA), vinculada ao Departamento da Defesa, criada em 1958. A segunda foca na prevenção de conflitos violentos, com forte ênfase na análise comportamental.
Entre as iniciativas institucionais vinculadas à segunda dimensão, destacamos a Atividade de Projetos de Pesquisa Avançada de Inteligência (IARPA), e Los Alamos National Laboratory, com sua divisão dedicada à Ciência da Radicalização.
A IARPA, vinculada à Agência Nacional de Inteligência, começou a funcionar em 2007. É liderada por cientistas e pesquisadores, não tem uma missão operacional e não atua em campo, seu objetivo é facilitar a transição dos resultados da investigação para a comunidade de inteligência na aplicação operacional. Um dos seus campos de atuação é a Inteligência Antecipatória, que “concentra-se na caracterização e redução da incerteza ao fornecer aos tomadores de decisão previsões oportunas e precisas de eventos globais significativos”, contemplando entre suas principais áreas de pesquisa a “previsão de eventos relacionados à ciência e tecnologia (S & T); crises sociais, políticas e econômicas; epidemiologia e biossegurança; contra inteligência; e cyber-segurança. (IARPA, 2017).
Em Los Alamos National Laboratory, no âmbito do International Research and Analysis Group (IAT-1), cientistas produzem e analisam indicadores de violência política para o Departamento da Defesa e a Comunidade de Inteligência. Seus objetivos são ambiciosos, na medida em que apontam ao desenvolvimento do que concebem como Ciência da Radicalização, dirigida a ajudar em processos decisórios através da compreensão de como fatores sociais, econômicos e psicológicos podem ser usados para antecipar a violência social e o terrorismo. Com esse conhecimento, acredita-se que tomadores de decisão estariam melhor equipados para avaliar o comportamento de grupos no momento em que começam a evidenciar aumento em seu nível de agressão.
Edward P. MacKerrow, Diretor do IAT-1, destaca como fator relevante em processos de desencadeamento de violência capazes de conduzir à “fabricação de terroristas”, a ausência de vias e meios de expressão efetiva de demandas de setores da sociedade. “Se as pessoas não tiverem a mesma oportunidade de expressar suas opiniões e problemas, eles podem sentir que não são respeitados por causa de quem são - a identidade do grupo” (Ramos Jr., 2011, p. 5). Nesse sentido, destaca um indicador de violência potencial a ser levado em conta:
Na direção contrária da perspectiva do improvável de Taleb, seja na deflagração de “Guerra Global contra o Terrorismo” ou contra o Estado Islâmico, os Estados Unidos têm investido de forma crescente e sistemática em programas de prevenção, em que a área de inteligência adquire destaque.
Para situar a dimensão das prioridades atribuídas pelo Estado, partimos das informações apresentadas por Tetlock e Gardner (2016), que tomando como base a Comunidade de Inteligência dos Estados Unidos formada pela CIA, a Agência de Segurança Nacional, a Agência de Inteligência da Defesa e outras 13 agências, calculam um orçamento anual de 50 bilhões de dólares, empregando 100.000 pessoas, 20.000 das quais são analistas.
Em termos de demarcação de significados, reproduzimos a concepção oficial sobre inteligência e terrorismo, base interpretativa comum das agências estatais e dos programas de cooperação com centros de pesquisa.
De acordo com a CIA, sua missão é “Prever ameaças e outros objetivos de segurança nacional dos EUA através da coleta de informações importantes, produzindo análises objetivas de todas as fontes, conduzindo ações secretas efetivas, conforme indicado pelo Presidente, e salvaguardando os segredos que ajudam a manter nossa Nação segura” (CIA, 2017). Trata-se, explicitamente, de três dimensões articuladas: inteligência como coleta e produção de informação, a serviço do processo de tomada de decisões do Estado para agir, de forma aberta ou encoberta, em defesa da segurança nacional.
De acordo com o Departamento de Estado, considera-se terrorismo a “violência premeditada, politicamente motivada, perpetrada contra alvos não combatentes por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, normalmente destinados a influenciar uma audiência”. O termo “terrorismo internacional” significa o terrorismo que envolve cidadãos ou o território de mais de um país. O termo “grupo terrorista” significa qualquer grupo que pratica, ou que tem subgrupos significativos que praticam o terrorismo internacional. O termo não combatente “é interpretado como significando, além de civis, pessoal militar (armado ou em serviço) que não estão estabelecidos em zona de guerra ou em uma configuração semelhante a uma guerra” (USSD, 2017, p. 446).
Além de caracterizar as ações e seus agentes, o Departamento de Estado define também Países Patrocinadores do Terrorismo, a partir da atribuição de responsabilidades em atos que expressariam essa postura, tornando-os sujeitos a vários tipos de sanções: restrições à ajuda internacional de Estados Unidos; proibição de exportações e vendas para o setor da defesa; controles sobre exportações de artigos que possam ter dupla utilização, servindo a outras finalidades de caráter suspeito; diversas limitações financeiras e penalidades para pessoas e países que se envolvam em transações comerciais com aqueles considerados patrocinadores do terrorismo.
Para dar resposta aos desafios e responsabilidades colocados pela guerra ao terror, a caracterização das ameaças adquire uma amplitude proporcional à margem de ação considerada adequada para o exercício do poder estadunidense. Dessa forma, a definição de terrorismo e dos seus agentes torna-se suficientemente ampla como para justificar a inclusão ou exclusão de países, organizações ou movimentos de acordo com as prioridades da segurança nacional estabelecidas por diferentes governos. Paralelamente, fortalecem-se capacidades de inteligência do Estado nas dimensões da análise de fontes e ações secretas.
Ainda que dispondo de capacidade de investimento em recursos humanos e materiais em graus inalcançáveis pelas demais potências, o uso da inteligência e da força militar estadunidense enfrenta cenários plenos de obstáculos. Às incertezas oriundas de cisnes negros, somam-se as da base material do capitalismo na esteira da IV Revolução Industrial.
Para Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, que reúne anualmente elites orgânicas do capital global em Davos, Suíça, a IV revolução industrial estaria afetando diretamente os conflitos modernos. Em contraste com as revoluções anteriores, que promoveram a “transição da força muscular para a energia mecânica, (na atual) a produção humana é aumentada por meio da potência aprimorada da cognição” (Schwab, 2016, p.15), a partir da fusão de tecnologias digitais, fundamentalmente computação, internet e inteligência artificial, se estabelece uma “interação entre domínios físicos, digitais e biológicos” (op. cit, p. 16).
Como consequência, novas tecnologias permitem reduzir e tornar mais leve armas com alto poder de destruição, incluindo biológicas, ampliando sua disponibilidade para indivíduos ou pequenos grupos. Ao mesmo tempo, estaria havendo uma hibridização do conflito, afetando diferenciações entre guerra e paz, combatente e não combatente, violência real e cibernética.
Se bem na Guerra Fria a capacidade de dano potencial por confronto entre Estados Unidos e União Soviética compreendia a própria existência da humanidade, tratava-se de atores sem vocações suicidas, cuja racionalidade estratégica era conhecida e relativamente previsível, permitindo estabelecer parâmetros comuns de equilíbrio de poder que evitassem uma conflagração total. Nas guerras do século XXI, além do acesso a armas de alta letalidade, a atomização das organizações e sua atuação em rede, as torna alvos menores e de maior mobilidade, colocando como elemento destacado do combate ao terrorismo a surpresa estratégica, impactando diretamente no terreno da inteligência e a tomada de decisões dos Estados.
Timothy Walton sintetiza os desafios em quatro aspectos: “a incerteza da situação atual, o fato desagradável de que de vez em quando há surpresas, a forte possibilidade de que alguém está tentando enganar, e o futuro imponderável” (Walton, 2010).
Como resposta, a segurança estadunidense atua em duas linhas paralelas. A primeira enfatiza o desenvolvimento de tecnologias para uso militar, em que cabe destacar a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada da Defesa (DARPA), vinculada ao Departamento da Defesa, criada em 1958. A segunda foca na prevenção de conflitos violentos, com forte ênfase na análise comportamental.
Entre as iniciativas institucionais vinculadas à segunda dimensão, destacamos a Atividade de Projetos de Pesquisa Avançada de Inteligência (IARPA), e Los Alamos National Laboratory, com sua divisão dedicada à Ciência da Radicalização.
A IARPA, vinculada à Agência Nacional de Inteligência, começou a funcionar em 2007. É liderada por cientistas e pesquisadores, não tem uma missão operacional e não atua em campo, seu objetivo é facilitar a transição dos resultados da investigação para a comunidade de inteligência na aplicação operacional. Um dos seus campos de atuação é a Inteligência Antecipatória, que “concentra-se na caracterização e redução da incerteza ao fornecer aos tomadores de decisão previsões oportunas e precisas de eventos globais significativos”, contemplando entre suas principais áreas de pesquisa a “previsão de eventos relacionados à ciência e tecnologia (S & T); crises sociais, políticas e econômicas; epidemiologia e biossegurança; contra inteligência; e cyber-segurança. (IARPA, 2017).
Em Los Alamos National Laboratory, no âmbito do International Research and Analysis Group (IAT-1), cientistas produzem e analisam indicadores de violência política para o Departamento da Defesa e a Comunidade de Inteligência. Seus objetivos são ambiciosos, na medida em que apontam ao desenvolvimento do que concebem como Ciência da Radicalização, dirigida a ajudar em processos decisórios através da compreensão de como fatores sociais, econômicos e psicológicos podem ser usados para antecipar a violência social e o terrorismo. Com esse conhecimento, acredita-se que tomadores de decisão estariam melhor equipados para avaliar o comportamento de grupos no momento em que começam a evidenciar aumento em seu nível de agressão.
Edward P. MacKerrow, Diretor do IAT-1, destaca como fator relevante em processos de desencadeamento de violência capazes de conduzir à “fabricação de terroristas”, a ausência de vias e meios de expressão efetiva de demandas de setores da sociedade. “Se as pessoas não tiverem a mesma oportunidade de expressar suas opiniões e problemas, eles podem sentir que não são respeitados por causa de quem são - a identidade do grupo” (Ramos Jr., 2011, p. 5). Nesse sentido, destaca um indicador de violência potencial a ser levado em conta:
quando vemos um grupo dado se cindir em facções, onde algumas facções novas se formam porque sentem que a abordagem pacífica não está funcionando e o sistema político está quebrado. Uma vez que o processo político atual não funcionou para eles, algumas facções podem aumentar seu potencial para estratégias violentas de influência” (op. Cit., p. 5)
Em termos de setores vulneráveis ao recrutamento por organizações terroristas, MacKerrow aponta como alvos potenciais “estudantes universitários que estão perto de abandonar e estão descontentes com seus esforços para encaminhar mudanças políticas ou sociais ... o crescimento de grupos que pensam que não podem se envolver em processos societários e políticos convencionais”, e situações de alto desemprego, principalmente entre jovens (Ramos Jr., 2011, p. 6).
A partir de levantamentos de dados, o IAT-1 desenvolve modelos computacionais dirigidos a simular comportamentos terroristas, “O pesquisador reúne informações sobre como as pessoas ou grupos se comportaram ao longo do tempo e codificam essa informação nos algoritmos do modelo e, em seguida, executa simulações para ver os padrões de comportamento do sistema que podem ocorrer em possíveis situações futuras” (op. cit. p. 7).
Reconhecendo as limitações inerentes à análise da ação humana, diferentemente de fenômenos físicos, são apontados alguns dilemas a serem abordados na direção da pretendida ciência da radicalização:
A partir de levantamentos de dados, o IAT-1 desenvolve modelos computacionais dirigidos a simular comportamentos terroristas, “O pesquisador reúne informações sobre como as pessoas ou grupos se comportaram ao longo do tempo e codificam essa informação nos algoritmos do modelo e, em seguida, executa simulações para ver os padrões de comportamento do sistema que podem ocorrer em possíveis situações futuras” (op. cit. p. 7).
Reconhecendo as limitações inerentes à análise da ação humana, diferentemente de fenômenos físicos, são apontados alguns dilemas a serem abordados na direção da pretendida ciência da radicalização:
Podemos prever a violência antes que aconteça? Podemos saber quem vai se tornar um terrorista e quando isso vai acontecer? A ciência social ainda não pode explicar por que uma determinada pessoa iria escolher a violência, mas as atitudes das pessoas estão se tornando disponíveis, por exemplo, na internet, provendo-nos dados exclusivos... O objetivo final não é o modelo de computador, mas uma melhor compreensão científica das vias de radicalização e como criar opções não-violentas para grupos e indivíduos (Ramos Jr., 2011, p. 8).
Perspectivas críticas nas ciências humanas
Abordando os atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris reivindicados pelo Estado Islâmico, que contabilizaram mais de 180 pessoas mortas e 350 feridas, assim como as respostas do governo francês dentro da lógica da “guerra ao Terror”, o filósofo Alain Badiou (2016) foge do refúgio no imponderável do Cisne Negro de Taleb ou dos déficits democráticos para dar voz a descontentamentos expressos por MacKerrow, situando na estrutura do capitalismo contemporâneo um mal de origem. A inteligibilidade das ações humanas em eventos dessa natureza se insinua nas correspondências entre estruturas socioeconômicas e superestruturas identitárias.
Abordando os atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris reivindicados pelo Estado Islâmico, que contabilizaram mais de 180 pessoas mortas e 350 feridas, assim como as respostas do governo francês dentro da lógica da “guerra ao Terror”, o filósofo Alain Badiou (2016) foge do refúgio no imponderável do Cisne Negro de Taleb ou dos déficits democráticos para dar voz a descontentamentos expressos por MacKerrow, situando na estrutura do capitalismo contemporâneo um mal de origem. A inteligibilidade das ações humanas em eventos dessa natureza se insinua nas correspondências entre estruturas socioeconômicas e superestruturas identitárias.
O 1% da população mundial possui o 46% dos recursos disponíveis...O 10% da população mundial possui o 86% dos recursos disponíveis. O 50% não possui nada...O 10% da população corresponde, mais ou menos, ao que era a nobreza no Antigo Regime...Temos então uma oligarquia de 10% e, depois uma massa de despossuídos de mais ou menos a metade da população mundial...Fica um 40%, que é a classe média e a que se reparte, penosamente, 14% dos recursos mundiais (Badiou, 2016, p. 46).
Em consonância com essa estrutura, Badiou situa três subjetividades reativas: ocidental, de desejo do Ocidente e niilista. A ocidental, que corresponde à classe média, combina a autossatisfação pelo lugar ocupado no mundo com o medo de perde-lo frente a pressões distributivas oriundas dos estratos excluídos. A segunda subjetividade consiste no “desejo de possuir, de compartilhar, isso que é representado e é por toda parte ponderado como a abundância ocidental” (op. Cit. p. 63), que tem como exemplo destacado de expressão os fluxos migratórios para Europa e Estados Unidos. A niilista corresponde a “um desejo de revanche e de destruição claramente associado com o desejo de partir e de imitação alienada” (op. Cit., p. 64), inspirador de eventos como o de Paris, com características que o situam no campo dos fascismos modernos:
É intracapitalista, pois não propõe outra estrutura do mundo. Se instala no mercado mundial, de fato, na medida em que recrimina ao capitalismo não estar cumprindo as promessas que faz. Ao se fascicizar, o decepcionado do desejo de Ocidente se torna inimigo do Ocidente.... Enquanto a sua forma, (trata-se) de uma pulsão de morte articulada em linguagem identitária. A religião é um ingrediente possível dessa articulação: o catolicismo o foi para o fascismo espanhol durante a Guerra Civil, o islã o é atualmente no Oriente Médio (Badiou, 2016, p. 67).
Essa modalidade de subjetividade reativa, ao mesmo tempo em que fortalece discursos maniqueístas de falsas oposições entre o “bem” e o “mal”, “civilização ou barbárie”, tornou-se fonte de recrutamento de descontentes com a pobreza e a desigualdade, descaracterizando o alvo de combate ao substituir o capitalismo pelo “ocidente”.
Embora não trate especificamente do terrorismo, Axel Honneth, um dos referentes contemporâneos da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, aponta elementos interpretativos esclarecedores para o tema em discussão. Assim como Badiou, situa-se no campo analítico que vincula os efeitos da estrutura econômica na base de referência das dinâmicas sociais, no entanto relativiza o peso do utilitarismo na explicação de mecanismos desencadeadores de revolta contra as desigualdades e exclusões na esfera da vida material.
Sem questionar as bases argumentativas da lógica dos interesses, em que a racionalidade meios-fins estabelece parâmetros de referência para a organização de fluxos de descontentamento constitutivos de movimentos sociais, aponta para a necessidade de complementação do modelo utilitarista pela incorporação da perspectiva associada à luta por reconhecimento.
Embora não trate especificamente do terrorismo, Axel Honneth, um dos referentes contemporâneos da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, aponta elementos interpretativos esclarecedores para o tema em discussão. Assim como Badiou, situa-se no campo analítico que vincula os efeitos da estrutura econômica na base de referência das dinâmicas sociais, no entanto relativiza o peso do utilitarismo na explicação de mecanismos desencadeadores de revolta contra as desigualdades e exclusões na esfera da vida material.
Sem questionar as bases argumentativas da lógica dos interesses, em que a racionalidade meios-fins estabelece parâmetros de referência para a organização de fluxos de descontentamento constitutivos de movimentos sociais, aponta para a necessidade de complementação do modelo utilitarista pela incorporação da perspectiva associada à luta por reconhecimento.
Os motivos da resistência social e da rebelião se formam no quadro de experiências morais que procedem da infração de expectativas de reconhecimento profundamente arraigadas. Tais expectativas estão ligadas na psique às condições de formação da identidade pessoal; ... se essas expectativas normativas são desapontadas pela sociedade, isso desencadeia exatamente o tipo de experiência moral que se expressa no sentimento de desrespeito. Sentimentos de lesão dessa espécie só podem tornar-se a base motivacional de resistência coletiva quando o sujeito é capaz de articulá-los num quadro de interpretação intersubjetivo que os comprova como típicos de um grupo inteiro (Honneth, 2009, p. 258).
Em termos de especificidade interpretativa, maiores níveis de revolta não são necessariamente a expressão dos maiores níveis de pobreza e exclusão, mas do sentimento de desrespeito de identidades reconhecidas como essenciais na inserção social dos sujeitos. Honneth remete aqui ao historiador marxista inglês Edward Thompson: “o que é considerado um estado insuportável de subsistência econômica se mede sempre pelas expectativas morais que os atingidos expõem consensualmente à organização da coletividade” (op. cit, p. 263).
Aprofundando a dimensão identitária como resposta/refúgio de indivíduos e grupos frente ao ambiente circundante opressivo, o filósofo David Le Breton traz para a análise do jihadismo sua abordagem do “desaparecer de si”, comportamento associado a “estratagemas dos nossos contemporâneos para deslizar-se da malha do tecido social e renascer em outro lugar, com outra versão de si mesmo, ou bem apagar-se na discrição, a solidão, a ausência” (Le Breton, 2017a, p. 186)
Diferentemente da luta por reconhecimento enfatizada por Honneth, trata-se para Le Breton da rejeição desse reconhecimento através da Brancura, denominação que estabelece para um mecanismo de suspensão do “mundo de maneira provisional ou duradoura...uma posição de espera quando o indivíduo busca ainda seu lugar no mundo e este não cessa de esquivá-lo” (2017a, p. 187). Nesse processo, torna-se uma espécie de página em branco, pelo desaparecer de personagem atribuído desde um exterior expressivo do espírito dominante da época, seja através da família, da escola, da sociedade, o trabalho, para posteriormente renascer com outra versão de si mesmo.
Exemplos de desaparição de si podem ser encontrados em formas de desapego originárias por opções conscientes de recolhimento, ou por efeitos depressivos frente a trauma existencial, ou fugas através de atividade exacerbada, ou de condutas de risco envolvendo principalmente jovens, seja pela transformação do corpo em espaço de experimentação (prática de esportes radicais, ingestão sistemática de substâncias químicas, tatuagens), ou pela adesão a extremismos, exemplificado no crescimento do jihadismo na Europa.
Aprofundando a dimensão identitária como resposta/refúgio de indivíduos e grupos frente ao ambiente circundante opressivo, o filósofo David Le Breton traz para a análise do jihadismo sua abordagem do “desaparecer de si”, comportamento associado a “estratagemas dos nossos contemporâneos para deslizar-se da malha do tecido social e renascer em outro lugar, com outra versão de si mesmo, ou bem apagar-se na discrição, a solidão, a ausência” (Le Breton, 2017a, p. 186)
Diferentemente da luta por reconhecimento enfatizada por Honneth, trata-se para Le Breton da rejeição desse reconhecimento através da Brancura, denominação que estabelece para um mecanismo de suspensão do “mundo de maneira provisional ou duradoura...uma posição de espera quando o indivíduo busca ainda seu lugar no mundo e este não cessa de esquivá-lo” (2017a, p. 187). Nesse processo, torna-se uma espécie de página em branco, pelo desaparecer de personagem atribuído desde um exterior expressivo do espírito dominante da época, seja através da família, da escola, da sociedade, o trabalho, para posteriormente renascer com outra versão de si mesmo.
Exemplos de desaparição de si podem ser encontrados em formas de desapego originárias por opções conscientes de recolhimento, ou por efeitos depressivos frente a trauma existencial, ou fugas através de atividade exacerbada, ou de condutas de risco envolvendo principalmente jovens, seja pela transformação do corpo em espaço de experimentação (prática de esportes radicais, ingestão sistemática de substâncias químicas, tatuagens), ou pela adesão a extremismos, exemplificado no crescimento do jihadismo na Europa.
O jihadismo é uma resposta trágica e niilista à questão do significado e valor de sua existência, para homens jovens que se sentem em falsa simetria com o mundo, em fracasso pessoal ou numa carência espiritual. O jovem radicalizado não tem o sentimento que dá força para viver; sua fragilidade se dissolve na potência real ou fantasmática de seu grupo de escolha e na convicção de estar sob o olhar de Deus. O Islamismo radical é uma das propostas à lá carte para jovens sem perspectivas. Apaga dúvidas, ambiguidades e, através desse rigor sem falhas, o adepto recebe as respostas que faltam em sua existência. É uma resposta totalizante e totalitária à profusão de significados e valores em nossas sociedades, à possibilidade de discutir porque o indivíduo apenas decide sua existência e não o grupo ou Deus. ...Tornou-se um modelo de contágio social porque responde brutalmente a expectativas não atendidas (Le Breton, 2017b)
Considerações finais
Guerra, tecnologia e terrorismo são temas que perpassam as diversas abordagens desenvolvidas neste artigo. A constatação da incerteza é preocupação do conjunto das análises apresentadas, mas diferem as motivações que direcionam a busca de respostas.
O trânsito da previsibilidade relativa que demarcava o conflito central da Guerra Fria para a surpresa estratégica do terrorismo, desafia o establishment de segurança estadunidense, especialmente na construção de capacidades preventivas. A mobilização de recursos intelectuais e materiais tem como orientação explícita o combate doméstico e internacional de organizações e países situados no território dos inimigos da nação.
Estabelece-se um campo definicional que caracteriza e delimita o terrorismo, e se institui a interlocução com a comunidade científica na construção de parâmetros de referência avançados em termos do desenvolvimento de tecnologias a serem implementadas pelas agências estatais.
Tratando-se de fenômeno que envolve, no desvendamento de motivações, a incursão nas complexidades do comportamento humano, haverá convergência de interpretações entre analistas vinculados à esfera governamental e do campo independente. É o caso da identidade como fator de mobilização.
MacKerrow e Honneth convergem na valorização do desrespeito de expectativas de inserção na sociedade. Para o primeiro, as falhas se situam basicamente em sistemas políticos impermeáveis a fluxos reivindicatórios de setores que terminam optando pela violência, apontando para a dicotomia inclusão-exclusão como desafio das sociedades e das democracias ao estilo ocidental. Para o segundo, trata-se de desvendar a gramática dos movimentos sociais, em trajeto de transformação da realidade em que se evidenciam tensões explicativas entre a lógica dos interesses e do reconhecimento.
Alain Badiou situa o terrorismo jihadista como subjetividade reativa marcada pelo ressentimento frente a desejos estimulados e ao mesmo tempo negados pelo Ocidente. Essa perspectiva não contradiz a visão de analistas laboratoriais em Los Álamos. A diferença se situa na atribuição de determinações estruturais e no horizonte de saída. Não se trata para Badiou de falhas na capacidade inclusiva das democracias e sociedades existentes, mas de limites inerentes ao capitalismo, que no decorrer da sua história enfrenta diferentes modalidades de resistência dos setores oprimidos, reivindicando a retomada do projeto comunista frente ao desafio colocado por fundamentalismos religiosos de contornos fascistizantes.
No desvendamento de subjetividades que conduzem ao ativismo político, a abordagem de Le Breton não contradiz perspectivas de resposta ao desafio jihadista oriundas de visões tão opostas como a da “ciência da radicalização” e da “hipótese comunista”. Assumir uma identidade como sujeito que intervém nas múltiplas arenas da militância implica em algum momento um processo de Brancura, um desaparecer de si para renascer em outra versão de si. Na abordagem de Los Álamos, uma vez sistematizadas as variáveis de radicalização e transformadas em algoritmos, considera-se plausível gerar alternativas comportamentais não-violentas para grupos e indivíduos. Para Badiou, trata-se de disputa de hegemonia no âmbito do proletariado nômade entre fundamentalismo religioso e consciência de classe.
Guerra, tecnologia e terrorismo são temas que perpassam as diversas abordagens desenvolvidas neste artigo. A constatação da incerteza é preocupação do conjunto das análises apresentadas, mas diferem as motivações que direcionam a busca de respostas.
O trânsito da previsibilidade relativa que demarcava o conflito central da Guerra Fria para a surpresa estratégica do terrorismo, desafia o establishment de segurança estadunidense, especialmente na construção de capacidades preventivas. A mobilização de recursos intelectuais e materiais tem como orientação explícita o combate doméstico e internacional de organizações e países situados no território dos inimigos da nação.
Estabelece-se um campo definicional que caracteriza e delimita o terrorismo, e se institui a interlocução com a comunidade científica na construção de parâmetros de referência avançados em termos do desenvolvimento de tecnologias a serem implementadas pelas agências estatais.
Tratando-se de fenômeno que envolve, no desvendamento de motivações, a incursão nas complexidades do comportamento humano, haverá convergência de interpretações entre analistas vinculados à esfera governamental e do campo independente. É o caso da identidade como fator de mobilização.
MacKerrow e Honneth convergem na valorização do desrespeito de expectativas de inserção na sociedade. Para o primeiro, as falhas se situam basicamente em sistemas políticos impermeáveis a fluxos reivindicatórios de setores que terminam optando pela violência, apontando para a dicotomia inclusão-exclusão como desafio das sociedades e das democracias ao estilo ocidental. Para o segundo, trata-se de desvendar a gramática dos movimentos sociais, em trajeto de transformação da realidade em que se evidenciam tensões explicativas entre a lógica dos interesses e do reconhecimento.
Alain Badiou situa o terrorismo jihadista como subjetividade reativa marcada pelo ressentimento frente a desejos estimulados e ao mesmo tempo negados pelo Ocidente. Essa perspectiva não contradiz a visão de analistas laboratoriais em Los Álamos. A diferença se situa na atribuição de determinações estruturais e no horizonte de saída. Não se trata para Badiou de falhas na capacidade inclusiva das democracias e sociedades existentes, mas de limites inerentes ao capitalismo, que no decorrer da sua história enfrenta diferentes modalidades de resistência dos setores oprimidos, reivindicando a retomada do projeto comunista frente ao desafio colocado por fundamentalismos religiosos de contornos fascistizantes.
No desvendamento de subjetividades que conduzem ao ativismo político, a abordagem de Le Breton não contradiz perspectivas de resposta ao desafio jihadista oriundas de visões tão opostas como a da “ciência da radicalização” e da “hipótese comunista”. Assumir uma identidade como sujeito que intervém nas múltiplas arenas da militância implica em algum momento um processo de Brancura, um desaparecer de si para renascer em outra versão de si. Na abordagem de Los Álamos, uma vez sistematizadas as variáveis de radicalização e transformadas em algoritmos, considera-se plausível gerar alternativas comportamentais não-violentas para grupos e indivíduos. Para Badiou, trata-se de disputa de hegemonia no âmbito do proletariado nômade entre fundamentalismo religioso e consciência de classe.
Bibliografia
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